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  • Persuasão, de Jane Austen

    Os livros de Jane Austen realmente diferem-se daqueles que na contemporaneidade podemos estar acostumados a ler. Refiro-me àquela leitura rotineira, que muitas vezes se torna apenas um passatempo, como seria o de assistir uma telenovela. Mas Jane Austen, apesar de receber o mesmo tratamento por alguns leitores, não merece ser considerada uma escritora de livros para passatempo, ou meros “noveliscos” sem conteúdo aprofundado. Acabo de ler mais uma de suas obras, o livro Persuasão, que nos revela a personagem Anne com características de uma jovem equilibrada e de bom senso diante das variadas circunstâncias familiares e sociais. Estas características de personalidade são as principais preciosidades das obras de Jane Austen. No livro Persuasão, a jovem Anne acaba cedendo a forte influência de sua amiga mais próxima, a senhora Russell, e encerra um romance que em sua roda social poderia ser considerada uma vergonha, pois o amado de Anne não tinha título de nobreza e muito menos tinha riquezas aparentes. Como já mencionei em outro comentário que fiz sobre as obras de Jane Austen, a sociedade que faz parte de suas obras valoriza muito os casamentos dentro do próprio nível social, e muitas vezes dentro da própria família, por exemplo, primos casando com primos, etc. É nesta mentalidade que Anne não resiste a persuasão social e rompe com um namoro que seu espírito julgava correto. Dakota Johnson como Anne Elliot em adaptação de Persuasão, de Jane Austen (Netflix/Divulgação) Algo que a escritora faz questão de mostrar nesta obra é a hipocrisia que nasce da loucura por status social, mesmo sem riqueza real. A família de Anne, chefiada por seu pai, o Sir Walter Elliot, estava financeiramente arruinada, quase falida, tanto que foram obrigados a abandonar a mansão em que residiam para pôr esta em aluguel e ir morar numa residência mais econômica, visando o equilíbrio financeiro sem perder o mínimo de luxo e conforto, indispensável para a aparência social em que viviam. Nestas idas e vindas da vida da família Elliot, Anne acaba por reencontrar o amor que deixou de lado, persuadida por sua amiga e família. Mas agora seu antigo amor estava numa posição financeira diferente, pois tinha sido promovido a almirante e já contava com um considerável patrimônio, além de ter refinado seus costumes e já está participando de bailes e reuniões sociais da alta classe. Anne, uma jovem que era vítima de seu tempo e dos costumes sociais, não podia simplesmente abandonar a vida que tinha para viver seu amor, mas tinha o espírito equilibrado o suficiente para entender que agora surgia uma oportunidade de amenizar o impacto de um casamento fora dos nomes aprovados pela família e da amiga Russell. Seu antigo amado, o capitão Wentworth, poderia enfim realizar a felicidade que ela vislumbrou em anos passados. O enredo que envolve Anne e seu amado é cheio de pequenos e intrincados momentos de influência dos amigos e familiares, por isso a obra de Jane Austen não pode ser considerada apenas uma novela romanceada de época, mas precisa ser contemplada como uma obra repleta de sutil e delicada manifestação de força, que revela a virtude de seus personagens, sem esconder seus defeitos e falhas. A própria irmã mais velha de Anne e o seu pai revelam as mais lamentáveis atitudes originárias de julgamentos obsessivos, capazes de eliminar qualquer sentimento de felicidade por aquilo que julgam digno da altura social onde se encontram. Elizabeth chega ao ponto de extasiar-se somente pelo fato de sentar-se ao lado de algum conhecido ou familiar de grande prestígio social, como no caso da Lady Dalrymple. Após a leitura desta obra, o leitor acaba sendo convidado a refletir sobre as virtudes e vícios que pode encontrar neste enredo. Vaidade, orgulho, ganância e hipocrisia, são vícios que a autora precisa deixar claro nos personagens devido a própria realidade social que faz fundo à história.

  • A história de uma professora

    Li recentemente um livro de uma escritora espanhola sobre a história de uma professora, que desejava antes de tudo atuar nas localidades menos favorecidas a fim de colaborar para o desenvolvimento cultural e intelectual da sociedade. A história se situava nos anos de ebulição republicana da Espanha, com a efervescência dos partidos comunistas e demais esquerdistas que acabaram pautando boa parte da política educacional daqueles anos. Paula Llorens | Direção de Gemma Miralles O livro Historia de una maestra , de Josefina Aldecoa, me fez recordar o quanto é profunda e fundamental para a ideologia comunista a atuação em todas as áreas da educação, muito antes mesmo de ações práticas de revolução, ou mesmo de manifestação em grande escala. O romance é narrado por Gabriela, uma jovem professora que assume seu papel com idealismo e paixão pela transformação social através do ensino, o que logo demonstrará a imensa dificuldade em seus ideais e também certa controvérsia em seus próprios métodos. A obra, de caráter semi-autobiográfico, insere-se no contexto das reformas educacionais da Segunda República Espanhola, abordando os desafios enfrentados pelos docentes e a resistência ao progresso em comunidades rurais conservadoras, aspecto controverso em se tratando de “desenvolvimento”, pois para o professor ideólogo comunista, sua educação desconstrutivista e a luta contra tudo o que se referia ao método tradicional (ou conservador) deverá ser o melhor método a ser praticado em sala de aula. É uma obra que traz uma história de persistência na educação de uma jovem professora, mas que também reflete, devido a contextualização, a dinâmica social política que inevitavelmente acaba influenciando a educação, desde a educação dos mais pequenos até os adolescentes maiores. A obra se destaca pela sua capacidade de articular o íntimo e o coletivo, explorando as emoções da protagonista sem perder de vista os grandes acontecimentos históricos que moldam seu destino. Seu percurso a leva a distintas localidades, onde se depara com a pobreza, a desigualdade e a oposição de setores tradicionalistas que veem na educação uma ameaça às estruturas estabelecidas. A narrativa evidencia, assim, a luta dos professores republicanos contra um sistema enraizado em valores tradicionais tidos como arcaicos pelos revolucionários republicanos, reforçando a importância da educação como ferramenta de mudança. O avanço da Guerra Civil Espanhola adiciona uma camada de tensão e tragédia ao relato, culminando na constatação de que os sonhos pedagógicos de Gabriela serão esmagados pela realidade política, que o leitor poderá julgar conforme sua percepção da realidade, mas que diante de fatos históricos demonstram grande equívoco quando transportada a ideologia que Gabriela adotou a educação que tentava ministrar. A escritora Josefina garante uma trama sem enfadonhos de memória, sem aquelas perdas de linha cronológica que algumas vezes nos deparamos em certas obras. A escritora é muito feliz no estilo de narração, realmente fazendo o leitor visualizar as cenas descritas e os personagens envolvidos. Historia de una maestra é, assim, um testemunho poderoso sobre o impacto da educação e da vocação docente em tempos de crise. Com sensibilidade e rigor histórico, Aldecoa cria um romance que, além de literário, é um documento sobre uma época de luta e esperança, cuja relevância ressoa até os dias atuais quando se considera a possibilidade de uma educação cada vez melhor. Como professor de filosofia e de história, recomendo esta leitura considerando-a símbolo de mentalidades revolucionárias que atuaram dentro do sistema educacional em prol de uma ideologia política social.

  • Sacerdócio, graça irremovível

    Exaltar-se nas fraquezas! Eis o que aprendi de São Paulo, eis o que deveria ser regra para a vida de todos os que entenderam a preciosidade da vida, que está além dos dias vividos.

  • Diante da sociedade caótica

    Presenciamos inúmeras injustiças e maldades durante nossas vidas, e muitas vezes nos perguntamos com grande sentimento de indignação “porque se permite isso?”, “ninguém está vendo o absurdo nisso tudo?”. Claro que são perguntas motivadas pela nossa percepção, fruto do entendimento prévio que vamos formando acerca de determinada situação ou pessoa. Não podemos esquecer que, assim como a morte, a falibilidade do ser humano é certa, nossa condição precária e frágil acaba nos conduzindo a caminhos tortuosos e presenciando muitos tomando decisões e executando ações sem conexão com a verdade da realidade que sempre observamos, fazendo evidenciar-se a injustiça nua e crua contra a própria realidade da vida. Durante duas décadas tenho visto aflorar em mim os mais “justos” sentimentos de indignação diante de injustiças perpetradas pelas mais variadas pessoas, em vários âmbitos da sociedade. Mas creio que nenhum deles me deixa mais envergonhado do próprio ser humano do que as injustiças que assistimos no âmbito político, especialmente na política brasileira. São tantos casos e situações maiores ou menores que não consigo dimensionar o dano que tiveram em minha formação, excetuando o fato de uma tomada de decisão firme em nunca meter-me em atividade político-partidária, o que de fato nunca desejei e nem desejarei, mesmo permitindo-me comentar e refletir sobre a vida política em nosso país, o que já me rende muito trabalho e algumas vezes mau estar diante do que presencio nesta república. Atualmente fere-me o fato de uma atividade viciada e totalmente fora dos preceitos democráticos, da esfera jurídica e de seu exercício nos tribunais, especialmente no que deveria ser o mais alto grau de recurso neste país, o Supremo Tribunal Federal. Seus juízes, os ministros do STF, alinharam-se em torno de uma visão de totalitarismo e “paternalismo” jurídico que faz deste tribunal uma verdadeira fonte de arbitrariedades em vista do próprio direito natural e positivo instituído. Suas decisões tentam remodelar as concepções filosóficas e até teológicas acerca de várias questões, mas sempre oportunamente em vista do alinhamento que firmaram entre si (notoriamente!). Hoje vê-se neste tribunal, uma mãe de duas crianças, temente a Deus, mesmo que conduzida em certa medida por suas convicções políticas, sendo julgada por pichar com um batom a estátua de deusa pagã, que ironicamente, é “cultuada” por este tribunal como símbolo da justiça que ali se faz. E pasmo-me ao saber que não será apenas condenada por isso, mas que pode ser presa por mais tempo que um traficante de drogas ou mesmo um assassino. Nisto se transformou o tribunal que deveria existir apenas para recursos extremos e como última alçada em casos tramitados em outros tribunais, transformou-se em uma instituição totalitária que brinca de condutores dos destinos, ou como já disseram “editores” da história da humanidade. Então, diante de fatos como este, como não envergonhar-se da humanidade e imaginar que erros atrozes como os acontecidos no período nazista alemão ou mesmo no sombrio e nefasto período soviético, de tão absurdos, considerando a falibilidade humana, não seriam possíveis de acontecerem novamente?  O Brasil já foi um país que possuía grande esperança de desenvolvimento humano e social, e hoje percebo somente um caminho nebuloso de busca pela mediana sobrevivência, algo que socialmente nem se enquadra nos famosos níveis sociais, mas talvez se enquadraria melhor nas chamadas castas sociais, onde por uma espécie de “karma político social” não se teria outra coisa a fazer senão a resiliência na lamentável situação em que se encontra. Uma sociedade de “castas” fabricada por este totalitarismo político-judiciário, logo poder-se-ia lançar mão do Estado policialesco, onde definitivamente seríamos presos em nossa própria sociedade. Diante de quadro tão real e assustador, o que fazer? Para onde ir? O que devemos pensar? Para a maioria das pessoas desta sociedade brasileira as respostas para estas perguntas não são executáveis, o que só não nos leva ao total desespero porque se sabe que no final de tudo, todos se confrontaram com a única realidade que não pode ser manipulada, e não pode ser reescrita e nem reinterpretada, pois a única realidade é Aquele que criou e fundamenta todo o existente.

  • Mensagem para a Quaresma de 2025

    Estimados leitores. No ano de 2013, escrevi uma mensagem para a Quaresma daquele ano, e revendo-a penso ser oportuno destacar um ponto que na mencionada mensagem trazia logo no início. Não seria correto esquecermos que a quaresma não é um tempo isolado, que existe por si mesmo dentro do calendário litúrgico da Igreja, ela é uma longa preparação para o momento mais importante de nossa salvação: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. (SILVA, Valderi da, Mensagem para a Quaresma de 2013 . https://www.valderi.com.br/artigo/mensagem-para-a-quaresma-de-2013 . 2013) Parece incrivelmente fácil para o cristão transformar o período quaresmal em algo monolítico, como um bloco independente, que existe e sustenta-se por si mesmo. Na vida espiritual do cristão não podemos deixar que uma idéia como esta ganhe força ao ponto de calcificar-se em nosso espírito, pois este modo de considerar o período quaresmal, mesmo que inconscientemente, vai nos deixar estéril espiritualmente, nos deixando presas fáceis à tentação da mediocridade espiritual. Por isso, penso ser necessário considerar este ponto com grande atenção em nossa vida cristã. Como fundamento básico da fé cristã está a ressurreição de Nosso Senhor, uma catequese básica que, mesmo mal feita, deveria ter deixado fixo esta resposta em qualquer cristão. A ressurreição é o fundamento de nossa fé (cf. 1Cor 15,14.17), sem esta certeza nosso “edifício” cristão logo racha e começa a desmoronar. É necessário afirmar e reafirmar isso, apesar de que cada vez que vamos na Santa Missa o fazemos junto de nossos irmãos na fé ("Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!"). Paixão, morte e ressurreição. Três momentos de Nosso Senhor para o qual nos preparamos durante toda a nossa vida. Sim, durante toda a nossa vida, mesmo que saibamos que a intensidade desta preparação é localizada neste período que chamamos de quaresma. Por este motivo é que vamos entender que não se pode tratar o período quaresmal como algo “isolado”, algo existente por si mesmo na vida do cristão. Em realidade, o que se intensifica nestes quarenta dias antes da Páscoa é o que de modo mais sutil se tenta viver e refletir durante os demais dias do calendário. Poderia dizer que a espiritualidade da quaresma é a própria espiritualidade da Igreja para o ano todo, pois o que ela busca fazer em nossa alma é o que precisamos fazer para a segunda vinda definitiva de Nosso Senhor, ou pelo menos para nosso encontro pessoal com ele após nossa morte para este mundo. Assim, a quaresma deixa de ser algo localizado no ano como uma festa ou uma espécie “novena” ou quarentena, com início, meio e fim, mas passa a ser a própria espiritualidade diária do cristão que vive para o encontro definitivo com o Senhor, sua salvação. Alguém ainda duvida que devemos viver como quem corre a uma meta eterna (1 Coríntios 9,24)? Como alguém que vive com os olhos em Cristo todos os dias? Acredito que possa ter alguém que tenha dúvidas, mas estas as têm precisamente porque vivem uma quaresma pontual, com início, meio e fim, como algo a ser festejado, e depois esquecido até o próximo ano. Entendamos a importância para nossa alma, do fato de repensarmos como estamos olhando para a quaresma, como estamos vivendo esta espiritualidade. Aliás, poderíamos começar por sempre nos referirmos a ela como espiritualidade e não como tempo, para nos ajudar a desmanchar esta ideia delimitada de tempo específico no meio de outros tantos momentos diferentes durante um ano. Por fim, podemos pensar nos santos, e não será difícil encontrar sinais em suas vidas desta compreensão expansiva da espiritualidade quaresmal em todos os dias de nossas vidas. É conhecida a ascese e a espiritualidade intensa de muitos deles, e será que nestas vidas santas não poderíamos entender sinais de uma vida mortificada, penitenciada, reconciliada e caridosa? Sem contar com a oração constante presente na espiritualidade quaresmal e igualmente na vida santificada de tantos santos conhecidos. Sejamos nós os cristãos quaresmais, aqueles que não tratam os períodos litúrgicos como caixas delimitadas da própria espiritualidade cristã, que nos evolui e leva à salvação.

  • A Trindade subentendida

    Estava lendo o livro do teólogo Bruno Forte, sobre a unicidade e a multiplicidade no entendimento da Santíssima Trindade, e desta leitura e estudo me advém a compreensão de “subentendimento” de tudo o que podemos nos referir a Deus em nossa existência, desde os mais visíveis momentos de nossa vida, ligados a religião até as ideias mais complexas como os conceitos mesmo de danação eterna e vida gloriosa, ou mesmo a compreensão de eternidade.

  • O panorama da vida: uma análise em "Olhai os lírios do campo"

    “A gentileza podia melhorar o mundo. Se os homens cultivasse a gentileza seria possível atenuar um pouco tudo quanto a vida tinha de áspero e brutal” ( Olhai os lírios do campo , de Érico Veríssimo) Uma frase aparentemente simpática e de fácil concordância, é o que lemos nestas palavras inseridas na obra de Érico Veríssimo. Afinal, quem vai negar em sã consciência a validade da boa educação para uma vida equilibrada e longe da brutalidade e selvageria do ser humano que, sem educação, volta à reminiscência dos ancestrais. Mas esta frase merece mais do que simplesmente uma concordância de nossa parte, pois revela mais que uma consensual aceitação de algo valoroso. Na obra de Veríssimo em questão, encontramos alguns personagens situados na época de avanço dos exércitos alemães sobre as comunidades judaicas, além de todo o caldeirão de notícias sobre a guerra que já se travava na Europa a fim de deter o Reich alemão. É com isto que os personagens soltam diálogos vazios de convicção, mas repletos de impressões superficiais sobre si e sobre as situações que a trama nos vai apresentando. Além disso, a própria sociedade daquela metade do século XX já manifestava um arrombo entusiástico com qualquer novidade que aparecia sem a necessária interiorização considerando a cultura e a sabedoria já desenvolvida até o momento. Momento de superficialidades, poderia se dizer, o que se refletia muito na chamada “alta sociedade”, que popularizou a ideia de que o importante é conseguir dinheiro e gastá-lo sem pudor. Na frase tirada da obra de Veríssimo duas afirmações são evidentes: a de que o mundo é brutal e que a vida é naturalmente difícil; e a de que é possível haver algo que o ser humano possa fazer para diminuir esta aspereza e dificuldade. É uma visão que beira ao pessimismo naturalista, esta de que a vida é naturalmente difícil, o que pode facilmente levar a crer também que a vida é naturalmente má. A conceituação pessimista da vida, estreita a visão de tal forma que não enxergamos outras coisas senão os obstáculos para aquilo que julgamos necessários para o nosso viver, ou o nosso bem viver. Por isso, ser tão fácil diante deste tipo de panorama chegar também a conclusão de que a vida é naturalmente má, pois vivemos e trabalhamos e conseguimos ver somente as dificuldades, até muitas delas se tornarem barreiras intransponíveis. Quem puder ler a obra de Veríssimo perceberá no personagem principal o exemplo do ser humano que viveu boa parte da sua vida neste panorama estreito, onde quase perdeu definitivamente tudo por conta da impossibilidade que ele mesmo edificou com a estreiteza de compreensão. Deve-se perceber que não se trata somente de uma “maneira de ver a vida”, se trata de um movimento interior que precisa ser alavancado pela razão, pois não encontrará outra força ordinária capaz de fazer o indivíduo sair desta situação. Quando se afirma que o ser humano é capaz de fazer algo para diminuir esta aspereza da vida, devemos entender que esta envolvido aqui a própria capacidade do ser humano em decidir guiar-se pela faculdade racional que possui para romper a escravidão das “visões estreitas” a que pode estar preso. Na vida prática muitas ações, grandes e pequenas, podem contribuir para isso, sendo uma delas - talvez pequena - a gentileza, que descreve o autor neste trecho aqui analisado. Percebamos que a educação é resultado de uma ação, a ação de educar, que vai moldando o espírito e a visão do ser humano, alargando seu horizonte, especialmente para a percepção de que ele, indivíduo, não é único e muito menos destinado a um modo de viver, como se estivesse em alguma “espiral de costumes” predestinada. O que vejo nesta afirmação da gentileza como atenuante à crueldade e às dificuldades deste mundo, é a clara necessidade de sensibilizar o espírito humano, de evoluí-lo através de meios como a educação, pois o ato de ser gentil só surge da compreensão alargada da vida humana, fora dos estreitos movimentos padronizados de vida, que não revelam "vida" nem fundamento.

  • Mensagem para o Natal de 2024

    Aquele que nasceu milagrosamente é o Senhor do tempo Neste Natal, celebramos o nascimento de Jesus Cristo, o milagre que mudou a história. Ele, que veio ao mundo no tempo perfeito de Deus, é mais do que uma criança na manjedoura; Ele é o Senhor do tempo, Aquele que governa cada instante, cada época, cada coração. Jesus, o Alfa e o Ômega, tem em Suas mãos o passado, o presente e o futuro. Em Sua soberania, Ele ordena os eventos da história e de nossas vidas para o cumprimento dos propósitos eternos de Deus. O tempo não O limita, pois Ele é eterno, mas no mistério do Natal, Ele entrou no tempo para nos trazer redenção e esperança. Abertura da Porta Santa pelo Papa Francisco em ocasião do Jubileu Santo em 2025 Que neste Natal possamos nos render ao Senhor do tempo, confiando que em Suas mãos tudo está sob controle e que Ele é fiel para cumprir Suas promessas. Celebramos o Rei dos reis, que nasceu milagrosamente, viveu para nos salvar e reina para sempre.

  • Um conselho em O Conde de Monte Cristo

    Revendo o filme O Conde de Monte Cristo, inspirado na obra de Alexandre Dumas, percebi uma cena que não havia me chamado a atenção anteriormente. Trata-se do momento em que o abade prisioneiro no castelo d’If está agonizando nos braços de Edmund Dante e como um dos últimos conselhos diante da posição determinada de Edmund em devotar sua vida em sua vingança contra Villefort, Mondego, Danglars e Mercedes, devolve a seguinte sentença: “não cometa o crime pelo qual cumpre sentença”. Abade companheiro de prisão no castelo d"If No filme, o personagem Edmund fora acusado falsamente de traição à pátria e de assassinato, e mesmo sendo considerado visivelmente inocente pelo magistrado Villefort, fora vilmente enviado a prisão d’If quando este soube que Edmund sabia o nome do pai de Villefort, envolvido em conspiração com Napoleão Bonaparte. Então, para apagar os indícios de ligação do pai com Bonaparte, Villefort envia Edmund para a ilha prisão, sem previsão de soltura. O abade lembrou no fim da vida a Edmund que, conseguindo a liberdade deveria tomar cuidado para não deixar-se guiar pelo impulso e acabar realizando a falsa acusação que fora a desculpa para o prender injustamente. É visível que o padre estava dizendo a Edmund, que a vingança em qualquer escala não recupera a justiça perdida, não refaz a dignidade afetada. Assim é com qualquer sentimento de cobrança por algo recebido de outra pessoa, ou de outro grupo de pessoas. Nosso impulso natural é o de procurar o que nos machucou e retribuir a dor e o prejuízo. Mas este “natural” é primitivo, é o comportamento de um ser humano involuído, que não conseguiu perceber ainda que qualquer atitude injusta recebida não será ressarcida, especialmente pagando com “a mesma moeda” ou com atitudes semelhantes ao ato injusto. É por isso que nossa atitude precisa ser de alguém que olha para a cena a alguns metros de distância, observando o conjunto de tudo o que está envolvido, especialmente nos casos em que familiares estão envolvidos. Cuidado para não fazer aquilo que falsamente se lhe atribuíram, e este conselho é um sinal a ressoar em nossa consciência diante de tantas coisas que enfrentamos em nossa vida. Aqui não estou falando de nenhuma espiritualidade, mas simplesmente de justiça e equivalência, pois a justiça se faz objetivamente, destacando as suposições infundadas e conjecturas subjetivas. E a equivalência é sobre a realidade mesmo dos atos, não sobre o retorno das atitudes. Qualquer ato do ser humano - sendo pensamentos, palavras ou atos concretos - precisam equivaler ao bem que todos precisamos viver, independente de impressões confusas que os sentidos externos podem nos falar. Os impulsos de vingança e reciprocidade dos atos injustos possuem certa força de cegueira intelectual dos indivíduos, fazendo com que facilmente estes se encontrem “embebidos” de raciocínios viciados e sem fundamento no bem e na realidade. A dificuldade destes de sair desta situação é muito grande, especialmente sem ajuda externa, mas é preciso deixar este comando vicioso, e entender que a atividade humana não coaduna com a totalidade de reciprocidade dos atos dos outros, isto é, não devemos agir somente em resposta aos atos dos demais, isto robotizar a vida humana, e favorece o vício e a incivilidade.

  • Direito à liberdde de expressão e à vida: Absolutos?

    O tema da liberdade como um direito absoluto emerge não como necessidade de evolução do pensamento humano, mas atualmente -  e especialmente no Brasil - como uma defesa de prerrogativas do ser humano diante de um entendimento opressor e controlador. O que se discute parece muito claro, e deveria ser cada vez mais claro aos indivíduos: a liberdade de expressão e a vida, são direitos absolutos?  Primeiramente se deve entender o que é um direito absoluto: O conceito de "direito absoluto" refere-se a um direito que não pode ser restringido, limitado ou condicionado por nenhuma circunstância, autoridade ou outra norma. Ele se caracteriza por ser universal, inalienável e independente de qualquer consideração externa. De modo que estas são as características de um direito absoluto: inalienabilidade; universalidade; independência de condições; irrestrição. A universalidade e a irrestrição são características que podem muito bem se chocar em uma reflexão filosófica sobre o tema do direito absoluto, especialmente em tratando-se de temas como liberdade de expressão e direito de nascer, ou a vida. Por este motivo é preciso considerar que, nem tudo o que se pensa vai “matematicamente” resultar numa casuística perfeita, considerando como exemplo casos pontuais e concretos em que a liberdade de expressão, por exemplo, deve ser exercida sem restrição, coação ou condições limitadoras, mas ao mesmo tempo, com responsabilidade quanto a liberdade do outro indivíduo. Mas este problema que para muitos é a causa de questionar o direito absoluto à liberdade de expressão é uma armadilha, para não dizer uma falácia argumentativa. A responsabilidade e o direito do outro não existem para impedir ou limitar o direito do primeiro sob a certa incoerência conceitual e mesmo de aplicabilidade. Não podemos censurar, por exemplo, sob o argumento de defender a liberdade de um terceiro, pois a argumentação se esvazia ao tornar o que nos torna livre, veículo de opressão. Entendo com clareza que pode existir perfeitamente a conceituação de direito absoluto para liberdade de expressão e para a vida, ou seja, é perfeitamente razoável que se defenda a liberdade de falar qualquer coisa, em qualquer momento e lugar, e o mesmo para o ato de viver. Aquilo que é identificado como vida humana já possui o direito absoluto e inalienável de nascer e ter a chance de crescer. Vou repetir novamente o que lembrei antes, não associam imediatamente estes dois direitos absolutos com suas consequências, o que igualmente se vê para a liberdade diante da liberdade do outro, ou seja, a chamada responsabilidade é algo que precisa ser tratado a parte, para que não se vicie a argumentação, assim como a conveniência e as regras sociais em lugares distintos quando tratamos da liberdade de se falar qualquer coisa em qualquer lugar. O direito à vida, referindo-se ao “direito de nascer”, nos remete primeiramente ao fato do feto humano que gera-se no ventre de uma mulher que, após terminado o período gestacional, precisa nascer com todos os cuidados necessários. Mas também se refere ao fato do indivíduo continuar vivo até sua morte natural ou por acidente trágico e indesejado. Aqui duas atitudes se colocam contra o direito absoluto à vida: o aborto e o assassinato, sendo ainda o tema da pena de morte colocada associada ao assassinato como uma espécie de “assassinato permitido legalmente”. Apesar da eutanásia estar intimamente associada ao tema, preciso deixar de lado para que não alongue em demasia este texto. Deste modo, parece claro que este direito de nascer e continuar vivo é permeado pelas características de universalidade (nenhum indivíduo tem o direito de não deixar nascer um igual a ele), de irrestrição (nenhuma condição limitadora deve ser edificada deliberadamente) e de inalienabilidade (é um direito que não pode ser negociado). Mesmo a humanidade tendo evoluído muito em seu entendimento acerca da vida humana, da geração e dignidade do ser humano, ainda se observa - e acredito que sempre acontecerá isso - que grupos fundamentados em certo relativismo moral e de interesses transitórios, fazem manobras hermenêuticas e buscam o apoio necessário em sistemas jurídicos falhos e carentes de unidade interna, para tentar modificar a realidade que a humanidade conseguiu alcançar ao longo dos séculos.  O direito à liberdade de expressão é um caso ainda mais frágil e constantemente atacado nas sociedades, e os ataques a liberdade já revelaram as mais terríveis atrocidades que a humanidade presenciou, eventos que levaram ao extermínio de muitos homens e mulheres que nem perceberam quando se lhes estavam limitando a liberdade de expressar o descontentamento, os atos corruptos e falhos das várias instâncias no governo local. Sem o entendimento de que a liberdade de expressão é um direito absoluto, não se conseguirá saber se temos ou não o direito de falar o que se pensa, de denunciar o errado e o corrupto. Assim é que empurra-se uma sociedade para o abismo da repressão e ditadura governamental. As características de irrestrição, universalidade e independência de condições só existem em um exercício de liberdade de expressão garantida como direito absoluto, pois do contrário tem-se uma liberdade limitada, que para os quais será necessário limitadores, que dependerão de agentes para definir os limites. Esta é a estrutura de uma sociedade reprimida, cerceada e controlada como rebanho de ovelhas.  Muitos citam Stuart Mill sobre a liberdade de expressão, e apesar de mesmo ele encontrar certa dificuldade em excluir qualquer limitador à liberdade, esta citação vem muito a calhar: "Se toda a humanidade menos um fosse de uma opinião, e apenas uma pessoa fosse da opinião contrária, a humanidade não estaria mais justificada em silenciar essa única pessoa do que essa pessoa, se tivesse o poder, estaria justificada em silenciar a humanidade." (On Liberty, Capítulo II) O que Mill diz aqui é, se toda a humanidade mundial fosse de opinião A e somente um ser humano fosse de opinião B, a totalidade da humanidade não poderia calar este que tem opinião B. Do mesmo modo, o de B não poderia calar todo o resto da humanidade que pensa A, pois nada justificaria um nem outro. Aqui defendi o direito à vida e a liberdade de expressão em si mesmos, desconsiderando suas consequências. Para o tema da liberdade de expressão o tema das consequências e da responsabilidade é maior ainda, não em uma comparação qualitativa, mas quantitativa. Mas apesar disso, não nego a necessidade de se tratar destes temas adjacentes, pois são inevitáveis uma vez exercendo o direito à vida e a liberdade de expressão.

  • O que vai fazer com a sua liberdade?

    Para os que assistiram o clássico filme O Patriota , com protagonismo do ator Mel Gibson, esta frase não parece estranha. De fato, ela foi proferida por certo soldado da milícia organizada por Benjamin Martin, na batalha de independência das colônias americanas que estavam sob o domínio da coroa britânica. A escravidão fez parte da vida dos bravos americanos por muito tempo, e seu conceito de liberdade pareceu por muito tempo também afastado do tema da escravidão, evidenciando certa incompatibilidade dos temas. O pensamento norte americano poderia girar em torno de uma raça inferior, mas parece que não era bem isso o que se passava. Mas o que desejo destacar é a força da frase aqui fixada: O que você vai fazer com a sua liberdade? Na verdade é uma pergunta que ecoa no tempo, e vai durar enquanto houver um ser humano racionalmente capaz de pensar. O que faremos de nossa liberdade? O que estamos fazendo com a liberdade que temos? Estamos pensando nela para saber o que fazer com ela? A natureza humana precisa e deve evoluir, não fisicamente, como se de humanos passássemos a seres com formas estranhas e “marcianas”. Deve evoluir no pensamento, na capacidade racional, algo não material que edifique nossa vida, que guie nossa vida pelo fato de entender e responder aos obstáculos que presenciamos em nossa trajetória existencial. O que vai fazer com a sua liberdade? De fato, é uma pergunta incômoda para a maioria, pois a maioria não quer dar-se o trabalho de pensar, de refletir e de decidir. Mas decidir pelo quê? Pelo bom, pelo belo e verdadeiro, categorias de tudo aquilo que realmente existe para o melhor desenvolvimento da vida humana. De fato, mesmo esta ideia de “liberdade humana” não consegue permanecer de pé sem o caminho orientado por aquilo que é bom, verdadeiramente, e também por aquilo que é belo por si mesmo. Na bondade e na beleza da existência em si mesma existe a semente da liberdade humana. Daí que podemos aferir o contrário, que do mal e do feio (degenerante) surgem todas as espécies de escravidões, que de muitas maneiras diferentes inebriam o espírito humano, asfixiando qualquer tentativa de raciocinar sobre a força que nos leva a tal posição escravizante. Claro que o ser humano inebriado pelo mal e pelo feio dificilmente chega a conclusão de que está escravizado, pelo contrário ele tenta rebater dizendo que, na sua liberdade, escolhe tal e tal caminho. Mas não existe racionalidade em tal afirmação, pois não existe como valorizar decisões fundamentadas sobre o que fere a bondade e a beleza da existência. Assim, pelo simples fato de tentar argumentar sua suposta decisão pelo feio e mal, demonstra a falta de liberdade verdadeira. Mas uma vez entendida a senda da liberdade, pelo caminho do bom e do belo, o que faremos com ela? Não parece muito difícil responder dizendo que seguiremos a trilha da beleza e da bondade, e para vivermos assim procuraremos sempre a racionalização de tudo o que se encontra diante de nós. É fato que a racionalização impede a nossa servidão aos sentidos, o que sempre é um perigo na vida diária. O que chamamos de força de vontade é precisamente a inegável certeza de que não existe outro caminho senão aquele que a razão me indicou como bom, belo e verdadeiro. Por isso é tão difícil para um indivíduo sedentário intelectualmente entender se está ou não escravizado de alguma maneira, pois falta-lhe o hábito da racionalização diante da sua liberdade. Talvez algum leitor pense que sou um filósofo racionalista, destes que negam até a existência da alma e do espírito. Asseguro-lhes que não se trata disso, pois aqui não nego estas realidades, como também não é o objetivo tratar delas de maneira particular. A racionalização que entendo no tema liberdade é a nossa natural prática diante das realidades existenciais que vivemos, e isto não torna a razão a única força de fidelidade a nossa natureza e do mundo. Assim, entendo que a liberdade e o que faremos com ela depende fundamentalmente da utilização de nossa capacidade de raciocinar sobre tudo o que fazemos, vemos e sentimos, de modo que só se torna livre quem usa a razão em sua existência.

Valderi da Silva

suporte@valderi.com.br

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