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Foto do escritorValderi da Silva

O que vai fazer com a sua liberdade?

Para os que assistiram o clássico filme O Patriota, com protagonismo do ator Mel Gibson, esta frase não parece estranha. De fato, ela foi proferida por certo soldado da milícia organizada por Benjamin Martin, na batalha de independência das colônias americanas que estavam sob o domínio da coroa britânica.


A escravidão fez parte da vida dos bravos americanos por muito tempo, e seu conceito de liberdade pareceu por muito tempo também afastado do tema da escravidão, evidenciando certa incompatibilidade dos temas. O pensamento norte americano poderia girar em torno de uma raça inferior, mas parece que não era bem isso o que se passava. Mas o que desejo destacar é a força da frase aqui fixada:

O que você vai fazer com a sua liberdade?

Na verdade é uma pergunta que ecoa no tempo, e vai durar enquanto houver um ser humano racionalmente capaz de pensar. O que faremos de nossa liberdade? O que estamos fazendo com a liberdade que temos? Estamos pensando nela para saber o que fazer com ela?


A natureza humana precisa e deve evoluir, não fisicamente, como se de humanos passássemos a seres com formas estranhas e “marcianas”. Deve evoluir no pensamento, na capacidade racional, algo não material que edifique nossa vida, que guie nossa vida pelo fato de entender e responder aos obstáculos que presenciamos em nossa trajetória existencial. O que vai fazer com a sua liberdade? De fato, é uma pergunta incômoda para a maioria, pois a maioria não quer dar-se o trabalho de pensar, de refletir e de decidir. Mas decidir pelo quê? Pelo bom, pelo belo e verdadeiro, categorias de tudo aquilo que realmente existe para o melhor desenvolvimento da vida humana. De fato, mesmo esta ideia de “liberdade humana” não consegue permanecer de pé sem o caminho orientado por aquilo que é bom, verdadeiramente, e também por aquilo que é belo por si mesmo. Na bondade e na beleza da existência em si mesma existe a semente da liberdade humana. Daí que podemos aferir o contrário, que do mal e do feio (degenerante) surgem todas as espécies de escravidões, que de muitas maneiras diferentes inebriam o espírito humano, asfixiando qualquer tentativa de raciocinar sobre a força que nos leva a tal posição escravizante. Claro que o ser humano inebriado pelo mal e pelo feio dificilmente chega a conclusão de que está escravizado, pelo contrário ele tenta rebater dizendo que, na sua liberdade, escolhe tal e tal caminho. Mas não existe racionalidade em tal afirmação, pois não existe como valorizar decisões fundamentadas sobre o que fere a bondade e a beleza da existência. Assim, pelo simples fato de tentar argumentar sua suposta decisão pelo feio e mal, demonstra a falta de liberdade verdadeira.


Mas uma vez entendida a senda da liberdade, pelo caminho do bom e do belo, o que faremos com ela? Não parece muito difícil responder dizendo que seguiremos a trilha da beleza e da bondade, e para vivermos assim procuraremos sempre a racionalização de tudo o que se encontra diante de nós. É fato que a racionalização impede a nossa servidão aos sentidos, o que sempre é um perigo na vida diária. O que chamamos de força de vontade é precisamente a inegável certeza de que não existe outro caminho senão aquele que a razão me indicou como bom, belo e verdadeiro. Por isso é tão difícil para um indivíduo sedentário intelectualmente entender se está ou não escravizado de alguma maneira, pois falta-lhe o hábito da racionalização diante da sua liberdade.


Talvez algum leitor pense que sou um filósofo racionalista, destes que negam até a existência da alma e do espírito. Asseguro-lhes que não se trata disso, pois aqui não nego estas realidades, como também não é o objetivo tratar delas de maneira particular. A racionalização que entendo no tema liberdade é a nossa natural prática diante das realidades existenciais que vivemos, e isto não torna a razão a única força de fidelidade a nossa natureza e do mundo. Assim, entendo que a liberdade e o que faremos com ela depende fundamentalmente da utilização de nossa capacidade de raciocinar sobre tudo o que fazemos, vemos e sentimos, de modo que só se torna livre quem usa a razão em sua existência.

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