top of page
Buscar
Foto do escritorValderi da Silva

Um conselho em O Conde de Monte Cristo

Revendo o filme O Conde de Monte Cristo, inspirado na obra de Alexandre Dumas, percebi uma cena que não havia me chamado a atenção anteriormente. Trata-se do momento em que o abade prisioneiro no castelo d’If está agonizando nos braços de Edmund Dante e como um dos últimos conselhos diante da posição determinada de Edmund em devotar sua vida em sua vingança contra Villefort, Mondego, Danglars e Mercedes, devolve a seguinte sentença: “não cometa o crime pelo qual cumpre sentença”.


Abade companheiro de prisão no castelo d"If

No filme, o personagem Edmund fora acusado falsamente de traição à pátria e de assassinato, e mesmo sendo considerado visivelmente inocente pelo magistrado Villefort, fora vilmente enviado a prisão d’If quando este soube que Edmund sabia o nome do pai de Villefort, envolvido em conspiração com Napoleão Bonaparte. Então, para apagar os indícios de ligação do pai com Bonaparte, Villefort envia Edmund para a ilha prisão, sem previsão de soltura.


O abade lembrou no fim da vida a Edmund que, conseguindo a liberdade deveria tomar cuidado para não deixar-se guiar pelo impulso e acabar realizando a falsa acusação que fora a desculpa para o prender injustamente.


É visível que o padre estava dizendo a Edmund, que a vingança em qualquer escala não recupera a justiça perdida, não refaz a dignidade afetada. Assim é com qualquer sentimento de cobrança por algo recebido de outra pessoa, ou de outro grupo de pessoas. Nosso impulso natural é o de procurar o que nos machucou e retribuir a dor e o prejuízo. Mas este “natural” é primitivo, é o comportamento de um ser humano involuído, que não conseguiu perceber ainda que qualquer atitude injusta recebida não será ressarcida, especialmente pagando com “a mesma moeda” ou com atitudes semelhantes ao ato injusto. É por isso que nossa atitude precisa ser de alguém que olha para a cena a alguns metros de distância, observando o conjunto de tudo o que está envolvido, especialmente nos casos em que familiares estão envolvidos.


Cuidado para não fazer aquilo que falsamente se lhe atribuíram, e este conselho é um sinal a ressoar em nossa consciência diante de tantas coisas que enfrentamos em nossa vida. Aqui não estou falando de nenhuma espiritualidade, mas simplesmente de justiça e equivalência, pois a justiça se faz objetivamente, destacando as suposições infundadas e conjecturas subjetivas. E a equivalência é sobre a realidade mesmo dos atos, não sobre o retorno das atitudes. Qualquer ato do ser humano - sendo pensamentos, palavras ou atos concretos - precisam equivaler ao bem que todos precisamos viver, independente de impressões confusas que os sentidos externos podem nos falar.


Os impulsos de vingança e reciprocidade dos atos injustos possuem certa força de cegueira intelectual dos indivíduos, fazendo com que facilmente estes se encontrem “embebidos” de raciocínios viciados e sem fundamento no bem e na realidade. A dificuldade destes de sair desta situação é muito grande, especialmente sem ajuda externa, mas é preciso deixar este comando vicioso, e entender que a atividade humana não coaduna com a totalidade de reciprocidade dos atos dos outros, isto é, não devemos agir somente em resposta aos atos dos demais, isto robotizar a vida humana, e favorece o vício e a incivilidade.

0 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Bình luận


bottom of page