Tomás de Aquino sempre será atual
- Valderi da Silva

- 6 de set.
- 3 min de leitura
Sempre acabo surpreendido por alguma literatura que ainda não consumi, como algum livro de algum escritor que, por mais que já o conheça, não tinha conhecimento de determinada publicação. É o que aconteceu com Garrigou-Lagrange, quando recentemente tive contato com sua obra na versão em espanhol La Síntesis Tomista, de 1946. De fato, nesta obra o autor faz uma síntese do pensamento de São Tomás de Aquino de forma esplendorosa, como que pretendendo usá-la como um verdadeiro manual de filosofia e teologia.
Recentemente publiquei uma série de três vídeos palestras sobre o pensamento de Tomás de Aquino em vista da comemoração dos 800 anos de seu nascimento, comemorado neste ano de 2025. Nestes vídeos também tentei deixar uma síntese das ideias principais deste perene filósofo e teólogo do catolicismo, especialmente quanto a natureza e finalidade do ser humano.
O conjunto da obra de Tomás de Aquino realmente é gigantesco, e basta perceber pela sua famosa Summa Theologiae que deveria ser apenas um manual introdutório aos estudantes de teologia e acabou servindo de obra magna de seu pensamento. Sua filosofia essencialmente baseada na estrutura aristotélica de ato e potência revela um esquema quase infalível nos assuntos que envolvem a natureza do ser humano, sua existência e seu futuro. Mas o tema que para muitos pode ser acidental, mas, na verdade, é o principal, também se beneficia deste esquema de pensamento, isto é, Deus, sua existência e seu agir.

A estrutura da obra de Lagrange obedeceu a mesma estrutura de Tomás, Deus e a Criação, o homem (sua existência, virtudes e fim último), e Jesus Cristo e os sacramentos. Isto deixou a obra como uma perfeita estrutura de manual didático do que Tomás de Aquino desejou fixar para os estudantes de teologia e filosofia. O pensamento do Aquino é tão assertivo que dificilmente poderá ser deixado de lado tanto pelos cristãos como pelo mundo pensante, sua lógica é acompanhada por Aristóteles, que verdadeiramente fora parafraseado em muitos pensamentos. Tomás de Aquino destrincha de maneira analítica questões que para muitos seriam supérfluas e desnecessárias, mas que escondem um verdadeiro sentido sobrenatural para a existência humana, como, por exemplo, a realidade angélica.
Mas, por que ler ainda sobre Tomás de Aquino e seu pensamento? Esta pergunta não é muito difícil de responder, basta que analisemos os demais pensadores e escritores pós-Tomás de Aquino para perceber que somente encontramos confusão e dispersão, nada de respostas ao menos satisfatórias e razoáveis. Olhando para os escritores modernos e pós-modernos, o que encontramos se resume a um conjunto de frustrações e indignações sobre a própria existência. O que me leva a ler ainda sobre o pensamento de Tomás de Aquino é a clareza e a objetividade de seus raciocínios, capazes de elucidar até mesmo o pensamento dos anjos que nem sequer conseguimos ver. Além disso, o principal tema se direciona a Deus, sua existência e ação no mundo, e Tomás consegue nos conduzir por meio de exemplos e argumentos a Sua existência e certeza de presença em nossa vida, mesmo diante de nossa corruptibilidade, debilidade sensitiva e racional.
E é interessante perceber que Tomás de Aquino não elaborou um esquema de pensamento, apenas usou da capacidade racional humana para elucidar assuntos vitais de nossa existência. Talvez seja por este motivo que ele é tratado como um pensador perene, que não desvanece, que não é será esquecido. De fato, Tomás de Aquino não quis envaidecidamente construir uma filosofia própria, para ser lembrado no Panteão dos Filósofos, mas respondeu simplesmente aos questionamentos do seu tempo, que, na verdade, são os questionamentos de todos os tempos. Por isso, sua filosofia e teologia serão sempre consideradas como marcas mais claras e objetivas da realidade humana e sobrenatural.




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