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O impactante "1984"

Atualizado: 27 de ago.

Precisa escrever este artigo para o site e não sabia como começar. Como conseguir exprimir minha impressão do que li no livro “1984” de George Orwell? Talvez o leitor deste artigo já o tenha lido, ou talvez não, mas o que devo escrever aqui é a minha mais sincera perplexidade com a ficção criada pelo autor, que neste momento parece ter inspirado muitos eventos lamentáveis em nossa sociedade ou talvez - de maneira assombrosa - adivinhados que aconteceriam no futuro. 


De qualquer forma, “1984” é uma leitura interessantíssima em nossos dias, que de longe são os mais pacíficos e de plena dignidade humana.


O personagem Winston trabalha para o chamado “Partido”, nomenclatura usada para designar a governança política atual de parte da sociedade mundial. Aliás, o mundo parece ter se dividido em partes blocos somente numa espécie de eliminação dos países no que se refere a fronteiras e identidades próprias. Estes blocos seriam a Eurásia, a Lestásia e a Oceania. O bloco onde Winston vive e que é comandado pelo Partido é a Oceania, e está parece estar em constante guerra ou com a Lestásia ou com a Eurásia, ao menos é o que os habitantes da Oceania sabem das informações que o Partido através de seus meios de comunicação informam ao povo. No entanto, o grande problema é saber se o que estão dizendo é realmente a verdade dos fatos, e é justamente contra isso - verdade dos fatos - que boa parte da estrutura do Partido trabalha, devorando imensa mão de obra e técnica para perverter a realidade e moldar tudo em benefício dos interesses oligárquicos do Partido, inclusive a tentativa brutal de alteração da maneira de pensar dos indivíduos, especialmente daqueles que trabalham mais próximos ao partido e que podem de alguma forma ter certa influência ou força local.


A grande massa não pode ser tão trabalhada pelo Partido em seus diversos departamentos, por isso “escraviza-se” a grande massa através da pobreza e  da ignorância, restringindo seu poder de compra e quase excluindo o acesso à educação formal e informal. A grande massa torna-se os “Proletas”, aqeles que são a mão de obra de produção do Partido, que trabalham para produzir mais munição e mais alimentos para os membros do Partido. O que os Proletas recebem são exíguas quantidades de ração por determinados períodos. A manutenção dos Proletas na ignorância e na miséria é fundamental para a manutenção do Partido no poder absoluto da Oceania.

O personagem principal Winston trabalha em um setor de um dos Ministérios do Partido no qual tem por função diariamente alterar algum trecho de registro histórico que possa desmentir ou contradizer o que a liderança do Partido transmite ao povo para justificar suas ações, como a diminuição da ração diária, o aumento de produção armamentista para a guerra - que nem se sabe se está realmente acontecendo - e a vigilância contra poderes externos tentando se infiltrar na Oceania com o objetivo de derrubar o Partido e destruir a civilização daquele bloco. Assim, Winston acaba por começar a perceber certa incompatibilidade das ações do Partido com a realidade dos fatos, e a dúvida sobre sua lealdade ao Partido começa a surgir, o que mais adiante será causa de seu fim.


Como sempre digo ao comentar os livros que leio, não pretendo descrever todo o enredo de forma a diminuir a curiosidade de quem ainda não se dedicou a esta obra significativa de Orwell, mas vale minha observação sobre alguns pontos importantes, como a tentativa utópica de controle total da realidade e alteração do fato-verdade, algo tão absurdo que só pode surgir de espíritos autoritários e sedentos de poder acima de tudo, até da própria riqueza pessoal. Aliás, fica claro no cenário fictício criado por Orwell que os membros do Partido, mesmo aqueles de mais alto escalão, não miram a riqueza pessoal, visto que tudo o que possuem não é deles mas do Partido a quem servem.


Esta sanha por poder absorve até a mais evidente obediência e servidão às leis da natureza, absorvendo-às na intenção de controlá-las para o fim desejado. O poder é a meta absoluta para uma estrutura criada para este fim, e esta não exita em esmagar, torturar e matar qualquer ser humano que pense em interromper seu caminho. É o monstro social criado pelo próprio homem em sua displicência às virtudes interiores e a negação total da sobrenaturalidade do ser humano. Aliás, é interessante que o autor não fala muito do que teria acontecido com a religião, especialmente com o cristianismo depois da revolução que instaurou a edificação do Partido no poder absoluto. Existe uma citação mas que somente remete a sua existência no passado, levando a crer que a religião teria sido uma das primeiras coisas que as forças do Partido teriam suprimido e aniquilado da sociedade para seguir com seu projeto.


Pode ser um tanto absurdo afirmar, mas sem o cuidado constante dos indivíduos no que toca a sua formação interior e sua capacidade intelectual, muito do que se lê nesta obra ficcional poderá um dia ser realidade. Não que espere que aconteça, mas hoje a sociedade encontra-se inundada em convulsões que muitas vezes lembram certa estrutura de poder desejando surgir para dominar tudo e todos.



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