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A insistente cegueira intelectual

José Saramago realmente me deixa inconformado diante da triste realidade obtusa da mente humana e pela insistente atitude em valorizar o “confronto ao teísmo”. Apesar de recentemente ter publicado em um periódico mensal uma pequena análise literária sobre a obra Ensaio sobre a Cegueira (1995), volto a escrever sobre minha lamentável percepção de verdadeira cegueira humana diante de uma realidade inevitável.


Saramago é para mim um incontestável mestre na escrita, seus livros realmente merecem a notoriedade enquanto ao método e estilo desenvolvidos, o que fez com sua obra literária alcançasse fama e prestígio. Mas sua “cegueira” fez-o aprisionar-se na mediana altura intelectual, não o deixando voar. decolar com sabedoria e inteligência para as alturas da reflexão existencial associada ao fim último e inevitável da alma humana, a vida divina.

"não posso pensar em outra coisa a não ser o de como este escritor teve oportunidade para alçar vôo até o nível dos magnos escritores e como teve a possibilidade de alcançar o mundo divino" (Saramago, com asas sem querer voar, 26/07/2010)

É assim que encontramos neste mundo homens e mulheres que, mesmo possuindo um fortíssimo senso de humanidade, não querem admitir a realidade que lhes atinge e que os abraçará de maneira certa e real. Não é preciso relembrar aqui que não se trata de qualquer espécie de pietismo ou devocionismo popular, mas se trata de admitir intelectualmente a presença concreta da realidade divina nas vida do ser humano, o que para um escritor, acaba por se transmitir clara e lúcida em seus escritos.


Eliminando qualquer espécie de “carolismo” barato no mundo literário e intelectual, escrevo por entender a perfeita conjunção entre a realidade metafísica da vida divina em nossa vida, não somente como inspiradora de uma possível felicidade e harmonia, mas como verdadeiro e concreto sustentáculo da existência. O não-deísmo pregado e manifestado nas obras de Saramago, mesmo que revestido de um certo humanismo muitas vezes utópico, restringe qualquer desenvolvimento humano a uma mediocridade sem sentido, sem qualquer espécie de horizonte além deste que nossos olhos físicos podem ver.


Parece importante lembrar que toda a manifestação intelectual que hoje a humanidade goza em seu tesouro universal foi, de certa maneira, desenvolvido e impulsionado pela marca sensível da compreensão deísta da existência. Mesmo aqueles desenvolvimentos que aparentemente nada teriam de interesse teológico ou mesmo doutrinário, acabam revelando uma mão religiosa a registrar no papel o que a mente desenvolve. Não sei se existe algum estudo a nível universal da história sobre a presença da religiosidade nos escritos dos homens e mulheres que desenvolveram algum realmente relevante e que ficaram lembrados na história, mas a partir daquilo que já vi, mesmo o mais revolucionário e autoproclamado ateísta, escreveu com a mente envolvida em sentimentos de presença divina.


Escritores como José Saramago deveriam conseguir desenvolver sua habilidade associada à mais elevada aproximação teológica da vida humana, sem menosprezar qualquer benefício científico e tecnológico que realmente auxilie a humanidade. O problema sempre parece estar na finalidade, e isto desprendemos de Saramago, que não consegue entender a profundidade de Deus como finalidade de uma vida breve neste mundo. Nosso horizonte precisa ser Deus e sua existência, pois a alma inegavelmente existente em nós, encontra-se perdida, sem orientação ao limitar deste período que aqui vivemos.


Como já falei tantas vezes em meus artigos, mesmo minha mais ácida crítica a certo escritor ou pesquisar não se traduz numa afirmação para não chegar-se a seus livros e escritos. Pelo contrário, acredito que é somente chegando-se a estes sem medo é que desnudamos ainda mais a clareza daquilo que intelectualmente desenvolvemos.


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