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Natalício do que me antecedeu

A sensação temporal pode agir de maneira diversa nas pessoas, algumas certamente dirão que o tempo lhes passa muito depressa, outras afirmarão que o tempo parece devagar nesta altura da vida, mas o fato é que a sensação de escoamento temporal é uma variável, um acidente de nossa consciência que funciona com todas percepções que coletamos durante a vida.

Neste dia de São Bernardino de Sena, um homem educado desde a tenra idade na fé católica e nos bons costumes, meu irmão mais velho, o que me antecedeu na árvore genealógica, completa mais um ano de vida e como tal, deve pensar no tempo que vive alavancado pelo tempo que já viveu. Ele certamente percebe - uma vez que tolo não é um de seus defeitos - que estes anos de vida nada significam sem a consciência de tudo o que presenciou e tudo o que pode aproveitar no instante vivido, bem como tudo o que, em determinado instante deixou, mas que agora serenamente pode aproveitar e ainda cuidar e colher. O tempo jamais será um campo infértil, jamais será uma tábua de madeira que apodrece com as querelas do clima, pois o tempo não existe como objeto bruto e imóvel, existe como eternidade e é percebido pela nossa consciência neste curto período em que vivemos nesta condição, para formar esta percepção consciente.


Meu irmão acaba revelando a mim, em mais um aniversário, o quanto também envelheço, o quanto também sustento-me nos anos vividos nesta condição e o quanto a vida em si, jamais será definida com perfeição quântica. Uma vida humana ciente de si mesma, onde jamais os acidentes existentes ludibriam e enganam nossas faculdades interiores, só podemos acreditar que exista fora desta condição, fora deste pequeno período de maturação da consciência do tempo eterno existente.


Comemorar o nascimento deste irmão mais velho, anterior a mim, parece ser mais que providencial numa ordem justa e eterna do equilíbrio divino de nossos acidentes existenciais, onde os mais danosos são as paixões que tão facilmente dividem, agridem e destroem.


Muitos filósofos tentaram coisificar a história, transformando o ser humano num ente rígido, de surgimento certo a partir do nascimento e destruição irremediável no momento de sua morte. Geralmente, antes do que nos mata existe o pensamento sobre o que nos pode matar e como encarar a morte. No entanto, a história humana não pode ser vista assim, desta forma como coisificação da vida, mas como imperfeita descrição de nossa maturação existencial para a eternidade. Neste sentido, não existem “histórias”, mas apenas história onde vidas existem para a eternidade.

Que os santos, como São Bernardino, intercedam sempre por você, meu irmão.

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