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Dinheiro não produz cultura

No imediatismo popular, a riqueza financeira remeteria a uma quase inevitável robustez cultural, o que na prática e racionalmente não segue uma necessária consequência lógica, apesar de que muitas pessoas ricas realmente tentam utilizar sua riqueza para um desenvolvimento intelectual e cultural.


Faz algum tempo, publiquei um episódio do programa .filos no meu canal na internet fazendo um breve comentário a cerca deste assunto, e ali comentava rapidamente algumas coisas que agora desejo pontual com mais clareza.


A primeira coisa que preciso deixar claro é que cultura não está necessariamente ligada ao imediatismo consciente, este movimento de puro reflexo diante de alguma impressão sensorial que possamos experimentar diante de qualquer manifestação ou coisa. O imediatismo, ou seja, esta resposta instantânea que parece ser nossa primeira atitude diante de livros, textos, musicas, cenas teatrais, filmes e séries não fazem parte de uma profunda e sólida argumentação sobre a definição de cultura.


Dizia no programa citado que cultura transcende à manifestações externas e esporádicas, ela possui como característica notável a repetição, não mecanicista, mas aquela repetição evolutiva, que não destrói ou substitui, mas acrescenta e desenvolve algo que sustenta a validade e garante o fundamento para o conteúdo apresentado. Assim, posso dizer que é o tempo o laboratório onde se encontram os crivos ou ferramentas para a certificação de nossas manifestações como atos culturais.


Poderia até parecer que engesso a definição de cultura, mas pelo contrário, tento observar os fundamentos para eliminarmos aquilo que não é cultura e que, se não for eliminado do conceito, pode trazer grande prejuízo - como já trouxe - a nossa geração e às futuras. O motivo pelo qual nosso entendo como engessamento da definição de cultura a eliminação do imediatismo a tudo que nos apresentado sensorialmente, são os três crivos que no tempo acredito clarificar o que devemos aceitar como cultura e que devemos deixar no esquecimento: bom senso; razoabilidade e consciência individual.


Bom senso não é ciência e muito menos ciência filosófica, assim como não podemos confundir com lógica pura. Mas falo em bom senso porque este ato reflexivo faz parte da primeira etapa de uma possível reflexão intelectual que o homem comum pode alcançar no dia a dia. Este bom senso existe no ser humano através de suas experiências familiares e sociais que são temperadas pela fé que professa e vive. Desta maneira, não se pode exigir "bom senso" de alguém com distúrbios mentais e psicológicos e também duvidar do bom senso de um ateu.


A razoabilidade já é a parte mais interior do intelecto humano. Seria normal que todos a usassem, mas diante dos vícios humanos que a impedem de funcionar adequadamente, sempre será um esforço acima da média colocá-la em ação para julgar atos e coisas como produto cultural. A razão será instrumento eficaz de identificação dos valores que se carregam as ações, textos, discursos e vídeos que chegam a nós. É o conhecimento racional que nos indica características daquilo que tenta-se apresentar como contribuição cultural válida e permanente.


Por fim, a consciência individual. É nela que o bom senso e a razoabilidade viram ato de julgamento intelectual, ou seja, de neste processo todo é através da consciência individual que o homem torna-se capaz de emitir ou não seu julgamento a cerca da cultura apresentada. É por este motivo que sem liberdade de consciência não existe possibilidade de cultura válida, que transcenda o próprio tempo.


Com isto, parece claro que a cultura nunca esteve e nunca estará atrelada ao poder monetário, ou seja, atrelada ao dinheiro. O poder financeiro nunca conseguirá eliminar estas três características que parecem essenciais para a existência da verdadeira cultura. Mesmo que o poder do dinheiro possa impor determinadas coisas como cultura, é na consciência humana que de fato ela se fará materializada e transcenderá o tempo.






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