Sobre Pentecostes e o nosso desdém
A humanidade parece ter decidido sepultar a verdade descoberta depois de muitos séculos em benefício de uma apática, estéril e febril “filosofia sensitivista da constante mudança”, uma forma de traduzir a decisão pelo abalável, infundado e impreciso método de conduzir a própria vida.

Neste domingo que passou, a liturgia da Igreja Católica celebrou a solenidade de Pentecostes, algo para além de conto pietista e muitos menos de uma espiritualidade sensacionalista que apela ao pseudo ardor carismático. Uma solenidade que lembra um destes pontos da verdade descoberta a muito custo que hoje pretende-se sepultar, uma verdade revelada pela ciência divina, além da física e limitada ciência positiva e natural. Com fatos e dados históricos, esta verdade sofre ataques ideológicos sutis e ferrenhos, de dentro e de fora do âmbito eclesiástico e católico.
A ação do Espírito Santo na realidade humana passou a ser encarada apenas como um adorno, um afresco medievalista ou quem sabe renascentista, em torno da teologia fixada pelos documentos da Igreja Católica. É de se lamentar tamanha loucura do ser humano que pode alcançar o conhecimento de tal realidade divina neste mundo, entre nós e em nós, pois não estou falando aqui de ideias adotáveis segundo o gosto de tempo, local e língua, mas da ação do Ser Supremo e governador de todo o existente, o que inclui o próprio tempo gasto com o esforço em desdenhar de sua existência e presença.
O Espírito Santo, identificado como a terceira pessoa da Santíssima Trindade, é a mais complexa identidade de Deus que ainda não conseguimos entender, mesmo que considerando nossos limites diante do eterno e infinito.

Entre todos os adjetivos que lhe colocamos, o de aglutinador e o de revelador são os que mais me impressionam. Um por nos forçar a buscar certo entendimento acerca de sua ação aglutinadora sendo que observamos um mundo cada vez mais diverso e dividido além de conflituoso. Poderia esta observação depor contra este adjetivo divino. E o outro por notadamente, observando os indivíduos que recorrem a Deus por sua identidade trinitária, chegarem em algum momento de suas vidas ao desvelamento daquilo que tanto os afligia.
Pentecostes não pode ficar somente como uma afirmação guardada em determinado momento do passado, mesmo que refletindo a verdade sobre si. Esta solenidade fala ou grita aos nossos ouvidos acerca do que estamos deixando de falar e de refletir, isto é, sobre a natureza divina do Espírito Santo e sua permanência real e constante neste mundo finito a fim de mantê-lo no tempo e no espaço.