Por muito tempo figurando nas listas de mais vendidos da secção das obras de ficção – se bem que poderíamos discutir esta categoria a ele atribuida! –, sempre entre o 4º e o 8º lugar segundo a Revista Época.
Esta é uma simples observação que na verdade não quer dizer muita coisa a não ser que a obra vendeu muito bem. Mas sob outra ótica, a ótica que prefiro analisar, demonstra que a população em geral se simpatizou de maneira adequada a esta estória. Por que?
De maneira bem simples somente consigo encontrar uma resposta, e ela esta no enredo de fundo na saga dos homens contra o mal - homens, elfos, hobbits e anões contra Saurum e seu anel de poder. Em realidade alguém pode pensar: mas se resume a isso?! O bem contra o mal? Na verdade é bem mais profundo do que se pode imaginar ou logo conceber.
Sintetizo minha análise em duas partes: primeiramente na clara distinção que faz a obra do verdadeiro e do engodo, ou seja, do que leva inevitavelmente ao erro ou frustação. Pode-se resumir em “mal” em uma perspectiva que faz o homem ir ao mal caminho para sua realização. Este engodo pode-se também chamar de “caminho conduzido” porque aquele que segue nesta trilha não o fez sem a inclinação de alguém ou algo. Mas prefiro chamar de engodo pelo significado que tem a palavra que remete ao objetivo do “mal”: enganar para fazer o homem se perder de sua realização segundo a própria natureza.
Na obra claramente vejo o representante deste engodo em Saurum e sua influência através do anel que será o grande coadjuvante, já que toda a atenção se volta para o combate entre a união elfos-homens-anões e o exército reunido pelo próprio Saurum além da peregrinação nada confortável que faz Froddo e San para destruir o anel de poder na chamada Montanha da Perdição, nome bem propício diga-se de passagem.
Aqui é inevitável fazer a comparação, na qual creio que tenha se baseado Tolkien, entre esta parte que analiso e a criação de Deus e as forças do mal para fazer esta não alcançar seu objetivo, estar no paraíso com Deus.
Não se reduz simplesmente a comparar com Deus e o Diabo, mas com a possibilidade que o homem têm em sua vida. O verdadeiro na vida do homem pode ser trilhado por ele, basta ele saber reconhecer o verdadeiro Rei, aquele que não se auto proclama de imediato rei mas age como tal para depois anunciar seu reinado. Este cuida (zela, orienta) de seus súditos e os faz trilhar no caminho da verdade, ou seja, no caminho do bem, da união entre todos. Sim, penso em Aragor, o rei de direito nas terras dos homens.
Outra parte consiste na relação do “mágico” com o material, isto é, falando na linguagem da obra, dos elfos com os homens, anões e hobbits. Falo da relação de convivência e colaboração que se provou na estória. Quem observa na obra os elfos são seres imortais, mágicos e mantêm uma relação muito rara com o mundo diferente deles: homens, anões e hobbits. Mas por serem seres “puros” sempre tendem a todas as qualidades que fariam parte dos homens se não houvesse o pecado original como a inclinação, apesar de uma certa resistência, em ajudar os homens na batalha contra Saurum. E também a lealdade virtuosa como vemos em Légolas.
É evidente que neste ponto observo a estrita relação dos homens com Deus e sua necessidade da intervenção divina para vencer os obstáculos ou “guerras” . Mas quero destacar de modo mais firme esta união do homens com o “mágico” – mundo material com o divino. Esta união sempre existiu em nós, desde a criação.
O que faz o mundo parecer tão mal no tempos atuais? O sucesso da inclinação ao mal prodizido por “Saurum” em cada ser humano. É o homem deixando de lutar contra o mal para a ele se submeter.
O Senhor dos Anéis nunca acaba porque nunca acaba a condição humana, sempre teremos de lutar contra o mal que rodeia o “castelo”, o “condado” ou as “minas” onde vivemos. Sempre teremos de escolher entre se associar ao bem para destruir o mal.
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