Que a humanidade sempre observou os astros no céu, o sabemos desde muitos séculos, em isto já resultou em vários documentos, comentários, poesias e mitos. Mas houve um certo salto “evolutivo” nesta característica de observadores dos astros, a ideia de que algum ser humano pudesse ir até algum deles, seja estrela, lua ou qualquer outro planeta.
Esta ideia crescia no século XIX, mas ninguém teria ousado elaborar algum plano - ao menos completo segundo o seu tempo - desta viagem interplanetária, nem mesmo sob forma de romance, até que surge a obra de Júlio Verne, narrando a audaciosa viagem empreendida por americanos ao satélite terrestre, isto é, a Lua.
No livro Viagem ao Redor da Lua (VERNE, Júlio. Viagem ao Redor da Lua. Ed. Edico, 1870, 288 pgs.) - ou Da Terra à Lua, dependendo da tradução - , o escritor francês narra a fantástica aventura de certo clube formado por engenheiros, admiradores e comerciantes de produtos armamentistas, especialmente de canhões, que colocaram em ação uma ideia que tivera seu presidente, o senhor Barbicane: Atirar com um gigantesco canhão de metal um projétil da Terra até a Lua, com o objetivo de atingi-la e que se pudesse observar este projétil nos telescópios terrestres. Imaginemos que para aquele tempo, com a tecnologia de então, seria uma experiência extraordinária. E de fato, todo o país acabou empolgando-se com este projeto que moveu milhares de pessoas e muitos dólares, que logo foram angariados por campanhas de doações.
Se não bastasse o entusiasmo por atingir a Lua com um projétil, surge então um francês, com estilo excêntrico, disposto a viajar dentro deste projétil, e assim ser o primeiro ser humano a chegar até o satélite da Terra. Miguel Ardan dividiu opiniões, mas convenceu o presidente do Clube do Canhão e assim procedeu-se aos preparativos para tal inédita viagem.
Sem desejar passar aqui apenas um resumo do livro, preciso comentar que esta história passa-me a grande impressão de que Júlio Verne não apenas antecipou um acontecimento que mais tarde seria fato, mas reuniu num romance aqueles pensamentos que circulavam nas mais diversas rodas de conversa, e nos mais diferentes lugares, desde as universidades até os cafés e bares da época. Se Verne captou estes “e se fizéssemos…” de sua época, não só revela sua alta capacidade de observação e síntese, como o de organizar diversos pontos para uma história e adorná-la com detalhes técnicos científicos reais para enobrecer e validar sua ficção.
Vemos em suas diversas obras, algumas das quais já comentei aqui, que Verne possuía está honestidade de não “nacionalizar” os eventos geniais e fantásticos de suas obras. Se encontra personagens principais das mais diversas nacionalidades em suas obras, como nesta que aqui comento. Mesmo Verne sendo um francês, coloca nas mãos dos norte-americanos o protagonismo de tal feito extraordinário, o que ajuda muitos a considerar o escritor como um visionário, quase um profeta. Mas mesmo assim, sua pitada francesa não pode faltar, o que encontramos no personagem de Miguel Ardan, e talvez nele podemos encontrar uma certa sátira dos próprios compatriotas, num misto de arrogância, inteligência, bon-vivant, e meio irresponsável. Algumas coisas que talvez Verne não considerasse totalmente favoráveis, conforme seu estilo.
Isto tudo faz com este livro de Verne nos prove o gigante da literatura ficcional que encontramos em Júlio Verne.
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