Gn 22,1-2.9-13.15-18 Rm 8,31-34 Mc 9,2-10
Pe. Valderi
A
obediência de Abraão é característica principal de sua fé em Deus. Esta
obediência nasce da confiança e da certeza de que Deus conhece o melhor para
seus filhos.
A
obediência pela fé é também traço da vida cristã, em realidade ela existe a
partir de uma necessidade de nossa fé em depositar a confiança plena em Deus,
pois Ele conhece nosso interior e sabe do que o ser humano necessita para sua
vida. Por isso a vênia a tudo o que Ele fala e assim a tudo que nos pede. A
obediência se torna assim, manifestação da minha fé em Deus, assim como Abraão
que demonstrou o quanto cria nas palavras de Deus a ponto de não exitar em
sacrificar seu filho. Em nossa vida temos várias momentos de agir como Abraão,
ou seja, manifestar nossa fé absoluta em Deus através da obediência a seus
preceitos, algo que não é muito difícil de aparecer, basta pensarmos naqueles
palavras de Cristo fazei o bem aqueles vos odeiam (Lc 6,27), por exemplo.
Esta
obediência não é sinônimo de opressão ou repressão da liberdade. Quando se
trata de obedecer a Deus Pai, nossa obediência não fere nossa liberdade que Ele
mesmo nos deu, mas dirigi-a, orientá-a a tomar decisões que a plenificam
livrando-a de nos tornar escravos de outros coisas ou ideias, estes sim que
restringem nossa liberdade nos forçando a agir de maneira involuntária.
Muitos pensam que obediência e liberdade são duas palavras
antônimas, o que é um engano profundo, porque a obediência é uma manifestação
da liberdade, já que só homem interiormente livre pode optar responsavelmente por
obedecer. Quando Jesus se "fez obediente até à morte de cruz" (cf.
Fil 2,8), estava encerrando um tempo de escravidão do homem ao pecado, à lei
farisaica, e ao medo do morte, e abrindo para este o caminho da perfeição da
obediência.
Deste modo,
a obediência não é um atentado a nossa sagrada liberdade, antes é consequência
natural daquele verdadeiramente livre das influências escravizadoras de nosso
tempo.
Uma outra
consequência bela e necessária deste uso pleno da liberdade na obediência é a
observância não somente a Deus, mas também a Sua Igreja, pois ela é a que porta
Sua palavra e seus ensinamentos sendo depositária fiel do Evangelho de Cristo.
Para nós, a Igreja merece nossa atitude obediente, estar sempre pronto a
ouvi-la e atender a seus pedidos, pois se trata da instituição que Cristo
deixou-nos para orientar em Seu nome todos os povos no caminho da vida e do
amor, da justiça e da paz.
Pode
parecer-nos cruel este ato de obediência realizado por Abraão, sacrificar seu
filho por vontade de Deus, mas temos que olhar além da crueza desta cena, olhar
para a atitude confiante de Abraão, sua fé convicta não o deixava pensa que
Deus houvesse pedido isso simplesmente por capricho ou como castigo por algum
pecado, talvez ele pensasse no desígnio misterioso que Deus deveria ter para
pedir tal coisa. Mas Deus intervem para mostrar que aquele que é obediente
nunca será prejudicado por agir assim, isto é, confiar absolutamente nas
palavras de Deus.
Deus quis
testar Abraão? É mais adequado pensar que o Senhor pretendia mostrar a ele
justamente que sua fidelidade na obediência não era em vão, que nunca Deus
deixa de zelar pelo bem daqueles que Lhe são obedientes pela fé. Disto nós
temos que nutrir nossa vida, de
convicção e confiança em Deus para nos ser mais fácil esta atitude de
obediência a Sua palavra e a Sua Igreja.
Paulo nos
diz que não temos motivos para desistir ou desanimar nesta luta que travamos contra
nós mesmos e nossas tendências ao pecado, pois Deus está a favor daquele que de
coração sincero quer viver Sua vontade, e isto nos fortalece neste tempo de
quaresma, onde cada um tenta lutar e resistir as tentações de vaidade, egoísmo,
soberba, e todos estes vícios que nos afastam da Vontade de Deus para nós,
também resisti as investidas do mal para nos levar a perdição. Se Deus é por
nós, quem será contra nós? (v.31). Quem terá força o suficiente para nos vencer se estamos
com Deus a nosso favor?
Teremos
Deus a nosso lado, dando-nos forças para vencer tudo que possa nos levar ao
erro, se mantivermos nosso coração reto diante dos olhos de Dele. E isto nos
faz lembrar de Abraão que antes era comentado, pois ele mantinha-se fiel em sua
fé em Deus e mesmo o próprio Senhor lhe pedindo algo inimaginável foi
obediente, comprovando ao Altíssimo que nada podia diminuir ou abalar sua fé.
O evangelho
deste domingo nos apresenta a cena da transfiguração do Senhor, fato histórico
e místico e que nos traz três importantes considerações:
Nesta cena
evangélica aparece com Cristo dois personagens do Antigo Testamento, Moisés e
Elias. Figuras decisivas para a história do povo de Israel e que por isso
gozavam de intocável prestigio. Pois estes dois aparecem junto a Cristo e com
isto se tornam testemunhas de sua divindade dando maior crédito ainda para as
palavras e ações de Cristo. Não que Cristo necessitasse deste acréscimo para
corroborar sua atuação divina, mas se torna necessário a medida que estavam
também presentes ali discípulos de Jesus, e é a eles que este testemunho serve.
Estes
mesmos discípulos que ali estavam, Pedro, Tiago e João, acabaram se tornando
também testemunhas ocular da manifestação prévia do Cristo Ressuscitado. De
fato, este evento deixou nestes discípulos uma grande marca de verdadeira
alegria por ver o Messias mostrando-se tal como é, e até exclamam: Mestre, é
bom ficarmos aqui (v.5),
o que eles não compreendem é que este momento para Cristo é apenas
fortalecimento para Ele antes de começar o caminho do calvário.
São Tomás
de Aquino nos fala a respeito da transfiguração e de como ela era necessária
aos discípulos:
“Para trilharmos bem um caminho, é
necessário termos um conhecimento prévio do fim. Assim, o arqueiro não lança
com acerto a seta, senão mirando primeiro o alvo que deve alcançar (...) E isso
sobretudo é necessário, quando o caminho é difícil e áspero, a jornada
laboriosa, mas belo o fim” (3,q.45,a.1,c).
Ora, para efetivar a Redenção com a
morte na Cruz, e para formar a Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo ia submeter os
apóstolos a provas duríssimas. Era muito conveniente, portanto, que fizesse
conhecer experimentalmente, pelo menos a três deles, os fulgores de sua glória.
Desse modo, não só se sentiriam robustecidos para enfrentar os traumas de sua
Paixão, como também mais facilmente ajudariam seus irmãos a solidificar a Santa
Igreja, e fortaleceriam os fiéis ao longo dos tempos.
Por fim,
Deus Pai dá Ele mesmo testemunho a respeito de Jesus, Este é o meu Filho
amado, escutai o que Ele diz (v.7). Deus mesmo manifesta a real identidade
de Cristo querendo não deixar dúvidas a respeito de Jesus. Além disso, pede que
escutemos o que Seu Filho nos fala, Sua palavra é palavra do Pai e por isso
palavra que pede nosso assentimento e nossa obediência confiante de que assim,
não teremos porque temer qualquer tentação ou investida do maligno.
Assim seja.